sábado, 31 de outubro de 2015

Um Rio de Janeiro de Mentiras

Um Rio de mentiras - Olimpíadas da ilusão

Anuncio do Rio como a cidade sede das Olimpíadas 2016
Anuncio do Rio como a cidade sede das Olimpíadas 2016

No Brasil os esportes olímpicos, historicamente e culturalmente, sempre foram desprezados. Sempre. Aqui primeiro vem o futebol, mesmo depois dos 7 a 1 sofrido diante da Alemanha, depois vem o resto: os esportes olímpicos. Nosso potêncial é tão desperdiçado, tão mal tratado que basta compararmos os números de medalhas conquistadas em todas as participações em Olimpíadas: são 108 medalhas, em 20 edições.

Já Cuba, com seus pouco mais de 11 milhões de habitantes, ou seja, 6% da população do Brasil, coleciona 208 medalhas em Jogos da Era Moderna.

Mas, aí você vai falar: “Esse cara é contra os Jogos Olímpicos no Brasil ou é pessimista demais?”

Aí eu respondo:

“Nem uma coisa, nem outra. Na verdade o meu papel como jornalista de esportes há 25 anos, o meu compromisso é com a verdade, com os fatos e a realidade.

E se colocarmos todas aqui, num só artigo, vão faltar tempo, espaço e paciência para o leitor, apaixonado como eu, para entender como anda o esporte do meu país.

Como cidadão brasileiro que paga muitos impostos e que pouco tem de retorno eu digo que sou contra os Jogos Olímpicos no Brasil. Por um simples motivo: nós não temos uma política de esportes, capaz de transformar uma nação de 201 milhões de habitantes. Não temos foco na criança, no adolescente, na universidade, em lugar algum. Somos uma pátria de milhões de cidadãos de todas as cores, todas as raças, crenças, somos um caldeirão de descendências e etnias, oriundas dos quatros cantos do planeta. Aliás, só com essa fantástica capacidade de miscigenação já seríamos, se fossemos um país sério, uma potência olímpica. Temos por aqui material humano para todas as modalidades. Mas, não. Aqui desperdiçamos tudo. Aqui não valorizamos o esporte na escola pública, inclusive, pagamos muito mal os salários dos abnegados professores. Aqui a educação física nas escolas é um produto em extinção. Por aqui as prioridades são outras, os interesses não estão voltados ao desenvolvimento do esporte olímpico.

No Brasil jogamos dinheiro público no lixo ao construir ginásios e arenas que só atendem aos interesses dos políticos e grandes empreiteiras e não dos nossos jovens, muito menos das comunidades de baixa renda. Mas , tem o outro lado: como fã dos esportes olímpicos, jornalista e praticante de judô eu diria que sou a favor da realização dos Jogos Rio 2016, mesmo sabendo que estarei sendo injusto com os meus conterrâneos, que carecem de tudo, menos de uma olimpíada que eles nem chegarão perto.

Para se ter uma ideia sobre o impacto dos Jogos sobre o povo humilde do Rio de Janeiro, dezenas de milhares de famílias foram retiradas de suas moradias por causa do mega -evento. Muitos fizeram parte da triste estatística da faxina social e olímpica, da limpeza que foi instituída na terra dos Jogos. Que jogaram seu povo para fora e bem longe.

Nas reportagens que realizamos nesses últimos seis anos, assim que o Rio de Janeiro foi escolhido como cidade-sede, acompanhamos o drama de muitas famílias que perderam seus entes queridos, por causa da pressão da remoção. Gente que adoeceu, entrou em depressão por causa dos trajetos das novas avenidas e do novo Parque Olímpico - obras que jamais serão usadas por eles”.
Legado não, negado

Depois de tudo isso, você aí pode perguntar: então, para quem são os Jogos Olímpicos do Rio?

Os Jogos Panamericanos do Rio de 2007 são o maior exemplo de como não se deve organizar e preparar um evento. Na época, tanto os dirigentes do Comitê Olímpico Brasileiro, como o Ministério do Esporte e os políticos da cidade, Estado e do Governo Federal, todos afirmavam que os Jogos de 2007 trariam muitos benefícios à cidade sede. Doce ilusão!

Elefantes brancos foram criados e a educação, saúde, enfim, até o asfalto da cidade foram deixados de lado. Muitas promessas foram feitas e o chamado legado esportivo... virou negado.

Para se ter uma ideia, a arena de basquete e ginástica foi entregue à uma empresa privada que usa o espaço apenas para shows. Outra aberração está na construção e demolição do único velódromo coberto do país. Foi construído com 18 milhões de dinheiro público, com a proposta de ser reformado para as olimpíadas. Mas, simplesmente, depois de quatro anos sem ser usado foi demolido, com a promessa do Ministério do Esporte e do Comitê Organizador do Rio 2016 de reaproveitar o que restou do material numa futura instalação que seria feita em Goiânia – mas a prefeitura local não quis o “presente de grego” e o material todo foi despejado na cidade de Pinhais, a 600 quilômetros do Rio de Janeiro. Faz mais de um ano e meio que a ferragem do velho velódromo se deteriora a céu aberto. Mais uma mentira, mais uma promessa não cumprida, pois, acompanhamos há mais de um ano os restos do velódromo jogados num terreno. E assim nossos ciclistas ficaram sem o velódromo para a preparação da equipe que competirá em casa. Dá para entender?

Lembra do estádio olímpico do Engenhão? Pois é: além de receber o nome de um dos piores dirigentes da história do esporte mundial (João Havelange), ainda foi entregue a um time de futebol carioca que, por sua vez, jamais cedeu suas pistas de atletismo para treinamento e que, por pouquíssimas vezes, recebeu uma prova nacional depois do Pan.

Além de todas as mazelas, o antigo-novo estádio ainda foi interditado por erros na construção de sua cobertura.
Tem mais, muito mais.

Na cidade dos Jogos Rio 2016 o único estádio de atletismo, público da cidade, o Célio de Barros teve a sua pista concretada. Pois é, os gênios que administram e cuidam do esporte no Brasil resolveram fazer da pista um gigantesco estacionamento para os jogos da Copa do Mundo, no Maracanã. E, pasmem, hoje o local é alugado em fins de semana para festas rave.

Onde os jovens cariocas treinavam várias modalidades do atletismo, hoje bebem e fazem tudo aquilo que um adolescente não deveria fazer.

Resultado: o pessoal do atletismo, na terra dos Jogos, não têm pista para treinar para as olimpíadas que acontecerão na própria casa.

Nos links abaixo disponibilizamos algumas reportagens do documentário premiado da ESPN Brasil: “Brasil Olímpico, uma prestação de contas à sociedade “ - ele exemplifica muito bem a insatisfação de atletas e da população do Rio quanto ao legado que, na verdade, foi uma grande farsa.

Mais à frente apresentaremos outras mentiras esportivas brasileiras. Por enquanto, para fechar esse capítulo, a maior delas: o orçamento bilionário.

No lançamento dos Jogos Olímpicos, em 2009, os “organizadores” (os mesmos que cuidaram do Pan do Rio em 2007) apresentaram um projeto com um custo de 26 bilhões de reais.

Hoje, a menos de um ano da abertura dos Jogos, ultrapassamos os 38 bilhões de reais e, podem escrever aí, quando as luzes se apagarem o espetáculo da conta bilionária sobrará para o povo pagar. E nós, brasileiros, mais uma vez, ficaremos conhecidos como os organizadores mais corruptos do planeta.
Presente de grego

No Brasil existe uma cultura de copiar o que há de pior em outros países. No esporte, na política e na economia existem muitas semelhanças com o fracasso esportivo da Grécia. Obras realizadas às pressas, superfaturamento de tudo, falta de planejamento, falta de comprometimento com os espaços destinados ao esporte, falta de respeito com a população local, certeza de aparecimento de muitos elefantes brancos...

Em uma curta viagem no tempo, mais exatamente no ano de 2004, já teremos uma prévia do que poderá acontecer por aqui. Antes dos Jogos, denúncias de corrupção na terra da democracia. Depois, completo abandono dos atletas, instalações esportivas, enfim, o problema deixado nas mãos da população que agora vê a Grécia virar um verdadeiro barril de pólvora. Não dá para a gente afirmar que os Jogos Olímpicos enterraram a Grécia nesse caos financeiro, mas que ajudou, não tenha dúvida.

Por aqui, nessa época de vacas magras, uma coisa é certa: enquanto o Governo Federal tenta ajustar a economia e as contas públicas, com profundos cortes nos orçamentos dos setores fundamentais como educação, saúde, transporte, segurança e na área social, bilhões e bilhões de reais são despejados nas contas bancárias das grandes empreiteiras que, aliás, têm muitos de seus diretores e proprietários encarcerados no maior escândalo de corrupção já visto no nosso país.

Outro curioso detalhe: só agora descobriram essas práticas de pagamento de propina envolvendo políticos, obras públicas e grandes empreiteiras. Ouço falar dessa prática ilegal desde os tempos em que dizem ter descoberto o Brasil.
Jogo da corrupção

No Brasil o trabalho de prevenção é algo que não se coloca em prática. Aliás, todos desconfiam que a falta de ação preventiva é proposital. Aqui, as “autoridades competentes” só chegam depois que o estrago foi feito. E exemplos não faltam, desde as construções e compras de material para o Pan de 2007, passando pelas arenas da Copa do Mundo do Brasil de 2014 e agora nas instalações olímpicas e da “mobilidade urbana” que, geralmente, morrem no papel.

Nesse nosso Brasil dos Jogos do Rio 2016, a fiscalização é infinitamente menor que a esperteza dos políticos e dirigentes.

Aqui existe o TCU (Tribunal de Contas da União), um dos poucos órgãos considerados sérios do Brasil, mas que pouco pode fazer quando a quadrilha do esporte entra em quadra ou em campo.
Preparem-se

No Brasil a mentira não está apenas na organização do evento esportivo.

Na terra das olimpíadas a mentira também aparece quando se fala em um plano de segurança pública. Para a realização dos Jogos, o Governo do Rio de Janeiro colocou em prática um mega projeto de pacificação das comunidades do Rio de Janeiro. A ação da polícia pacificadora no início deu certo. Mas, recentemente, o que se vê no noticiário é que o crime e o tráfico estão novamente instalados nas regiões, teoricamente, pacificadas.

Com a chegada da temporada de calor, os cidadãos e os turistas têm vivido na pele a violência. São simplesmente atacados por marginais nas principais praias da cidade, por intermédio de arrastões (grupos que atacam e roubam as pessoas em bando). O lamentável nesse caso é que o Estado também não tem uma política de educação eficaz, capaz de cortar o mal na raiz, pois a falta de escola, esporte e oportunidade fazem com que os meninos das comunidades carentes encontrem no traficante a figura do ídolo.

Mas se você acha que este artigo é muito pessimista... e se você acredita em uma proteção maior: saiba que por aqui nosso povo garante que Deus é brasileiro.

Então, aqui vai um conselho: Ao desembarcar para ver os Jogos do Rio 2016 faça o sinal da cruz e reze muito.

Amém.

A Rio de Janeiro of lies Illusion of Olympics


Anuncio do Rio como a cidade sede das Olimpíadas 2016
Anuncio do Rio como a cidade sede das Olimpíadas 2016
Announcement of Rio as the host city of the 2016 Olympics

Olympic sports in Brazil, historically and culturally, have always despised. Always. Here first comes football, even after the 7-1 suffered against Germany, then comes the rest: the Olympic sports. Our potential is so wasted, so badly treated that simply compare the numbers of medals won in all holdings in Olympics: are 108 medals in 20 editions.

Cuba already, with its just over 11 million, or 6% of Brazil's population, collect 208 medals in Modern Era Games.

But then you will say, "This guy is against the Olympic Games in Brazil or is too pessimistic?"

Then I reply:

"Neither one nor the other. Actually my role as a sports journalist for 25 years, my commitment is to the truth, with the facts and reality.

And if we put them all here, in one article, go missing time, space and patience to the reader, passionate like me to understand how is the sport of my country.

As a Brazilian citizen who pays a lot of taxes and that has little return I say that I am against the Olympics in Brazil. For a simple reason: we do not have a sports policy, capable of transforming a nation of 201 million people. We have focus on children, adolescents, university, anywhere. We are a country of millions of citizens of all colors, all races, beliefs, offspring are a melting pot of ethnicities and, coming from the four corners of the planet. In fact, only this fantastic ability to miscegenation we would have if we were a serious country, an Olympic power. We have here human material for all modes. But no. Here we wasted everything. Here we do not value sport in public schools, even poorly paid salaries of selfless teachers. Here physical education in schools is a product of extinction. Here are other priorities, the interests are not aimed at the development of Olympic sport.

 Brazil played in public money in the trash to build gymnasiums and arenas that only serve the interests of politicians and major contractors and not our young people, much less of low-income communities. But you have the other side: as a fan of Olympic sports, journalist and judo practitioner I would say that I support the achievement of the Rio 2016 Games, even though I will be being unfair to my countrymen, who lack everything except a Olympics that they do not come close.

To get an idea of ​​the impact of the Games on the humble people of Rio de Janeiro, tens of thousands of families were evacuated from their homes because of the mega -Event. Many were part of the sad statistic of social and Olympic housecleaning, cleaning that was instituted in the land of the Games. Who played his people out and far away.

In the reports we do in these last six years, so the Rio de Janeiro was chosen as host city, we follow the drama of many families who lost their loved ones, because of the removal pressure. People who fell ill, became depressed because of the paths of the new avenues and new Olympic Park - works that will never be used for them. "

Legacy not denied

After all this, you can then ask, then, who are the Olympic Games in Rio?




To give you an idea, the basketball arena and gym was turned over to a private company that uses space only for shows. Another aberration is in the construction and demolition of the only covered velodrome in the country. It was built with 18 million of public money, with the proposal to be refurbished for the Olympics. But just after four years without being used it was demolished, with the promise of the Ministry of Sports and the Organizing Committee of Rio 2016 to reuse the remains of the material in a future facility that would be made in Goiania - but the local government did not the "Greek gift" and all the material was dumped in the city of Pinhais, 600 kilometers from Rio de Janeiro. For more than one and a half that the hardware of the old velodrome deteriorates the open. Another lie, another unfulfilled promise therefore follow for over a year, the velodrome debris thrown on land. And so our riders were without velodrome for the preparation of the team that will compete at home. It's understandable?

Remember the Olympic Stadium Engenhão? As it is: in addition to receiving the name of one of the worst leaders in the history of world sport (João Havelange), has delivered a carioca football team which, in turn, never gave their athletic fields for training and that, very few times, received a national event after Pan.

In addition to all the problems, the old-new stadium was still restricted by errors in the construction of their coverage.
There's more, much more.

In the city of Rio 2016 Games the only athletics stadium, public city, the Celio de Barros had his track concreted. Well, the geniuses who run and take care of the sport in Brazil decided to make the track a huge parking for the games of the World Cup at the Maracana. And, amazingly, now the site is rented on weekends to rave parties.

Where the locals youngsters trained various forms of athletics, today drink and do everything that a teenager should not do.

Result: Track and field personnel in the land of the Games, have no clue to train for the Olympics that will take place at home.

The links below provide some reports the award-winning documentary for ESPN Brazil: "Brazil Olympic, one accountability to society" - it illustrates very well the dissatisfaction of athletes and the Rio population about the legacy that actually was a farce .

Later introduce other Brazilian sports lies. For now, to close this chapter, the largest of them: the billionaire budget.

At the launch of the Olympic Games in 2009, "organizers" (the same people who took care of the Rio Pan in 2007) presented a project at a cost of 26 billion reais.

Today, less than one year from the opening of the Games, it surpassed the 38 billion reais, and can write there when the lights go out the spectacle of billion dollar account be left to the people to pay. And we, Brazilians, once again, we will be known as the most corrupt organizers of the planet.


Greek's gift

In Brazil there is a culture of copying what's worse in other countries. In sports, in politics and in the economy there are many similarities with the sporting failure of Greece. Works carried out hastily, overpricing of all, lack of planning, lack of commitment to the spaces intended for sports, lack of respect for the local population, certain appearance of many white elephants ...

In a short time travel, more precisely in 2004, we will have a preview of what could happen here. Before the Games, allegations of corruption in the land of democracy. Then complete abandonment of athletes, sports facilities, in short, the problem left in the hands of people who now see Greece become a real powder keg. We can not we say that the Olympic Games buried Greece this financial chaos, but it helped, do not doubt.

Here, in this lean times, one thing is certain: as long as the federal government tries to adjust the economy and public accounts, with deep cuts in the budgets of key sectors such as education, health, transportation, security and social area, billions and billion reais are dumped into the bank accounts of large contractors which, incidentally, have many of their directors and owners imprisoned in the largest corruption scandal ever seen in our country.

Another curious detail: only now discovered these kickback payment practices involving politicians, public works and large contractors. I hear about this illegal practice since the time who say they have discovered Brazil.



Game of corruption

In Brazil the work of prevention is something that does not arise in practice. In fact, all suspect that the lack of preventive action is deliberate. Here, the "competent authorities" only come after the damage was done. And examples abound, from buildings and shopping material for the Pan 2007, through the arenas of World Cup Brazil 2014 and now the Olympic venues and the "urban mobility" that usually die on paper.

In this our Brazil of the Rio 2016 Games, the inspection is infinitely smaller than the cunning of politicians and leaders.

Here there is a TCU (Federal Audit Court), one of the few organs considered serious in Brazil, but can do little when the gang of the sport enters the court or field.

Brace yourselves

In Brazil the lie is not only in organizing the sporting event.

In the land of the Olympics lies also appears when it comes to a public safety plan. For staging the Games, the Government of Rio de Janeiro put in place a peace mega project of the communities of Rio de Janeiro. The action of the pacifying police earlier worked. But recently, what you see on the news is that crime and trafficking are again installed in the regions theoretically pacified.

With the arrival of the heat season, citizens and tourists have experienced at first hand the violence. They are simply attacked by marginal in the main beaches of the city, by trawlers (groups that attack and steal the gang in people). The pity here is that the state also has an effective education policy, able to nip it at the root, because the lack of school sports and opportunity make the children of poor communities find the dealer figure idol.

But if you think this article is very pessimistic ... and if you believe in a higher protection: know that here our people makes sure that God is Brazilian.

So here's some advice: When you disembark to see the Rio 2016 Games make the sign of the cross and pray a lot.

Amen.